Carta Pastoral – A Necessidade da Devoção à Mãe de Deus

ARQUIDIOCESE DE APARECIDA
VIGARIA EPISCOPAL PARA ASSUNTOS GERAIS

CARTA PASTORAL
A NECESSIDADE DA VERDADEIRA 
DEVOÇÃO À MÃE DE DEUS

“Todas as gerações, desde agora, me chamarão 
bem-aventurada.” (Lc 1, 48)

15 de agosto de 2025
Aparecida - SP

Caríssimos irmãos,

Hoje, 15 de agosto, celebramos a Assunção de Nossa Senhora, ocasião propícia para refletirmos se temos verdadeiramente olhado para Maria Santíssima com o devido amor, reverência e atenção que Ela merece. À medida que nos aproximamos do dia 12 de outubro, data daquela que é Padroeira de nossa Arquidiocese e Mãe do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, somos a meditar sobre o papel de Maria na vida de cada cristão e na missão da Igreja.

Como clero e povo de Deus, pertencentes a uma Arquidiocese marcada profundamente por sua identidade mariana, somos chamados a cultivar, guardar e aprofundar continuamente esta devoção. Trata-se de um compromisso que vai além de um simples afeto ou de uma tradição cultural; é uma vivência que, bem alimentada, conduz-nos ao próprio coração do mistério de Cristo. Cabe-nos, portanto, como arquidiocese mariana, incentivar em nossas comunidades não apenas as práticas devocionais como terços, novenas e celebrações marianas, mas também momentos de experiências espirituais que nos ajudem a entender o papel de Maria na história da salvação e na vida da Igreja.

A autêntica devoção mariana é, em essência, um ato de amor a Jesus. Pela comunhão dos santos, veneramos a Mãe de Deus de modo particular, pois reconhecemos que foi por meio de Seu “sim” generoso que o Verbo se fez carne e habitou entre nós (Jo 1,14). Desde os primórdios da Igreja, Maria esteve intimamente associada às celebrações dos mistérios da vida de Cristo. Toda a sua grandeza deriva de Nosso Senhor e está indissociavelmente unida à sua obra redentora; por isso, a Igreja sempre zelou para que o louvor à Mãe jamais fosse separado do louvor ao Filho. Maria esteve presente de maneira singular em todos os momentos decisivos da vida de Cristo: na Encarnação, na Paixão, morte e Ressurreição. Sua vida é modelo de obediência radical à vontade divina, tornando-se a “Nova Eva” que, ao contrário da primeira, oferece seu “faça-se em mim segundo a tua palavra” de maneira incondicional.

Desde o Concílio de Éfeso (431), quando Maria foi proclamada solenemente “Θεοτόκος” (se lê como Theotokos, ou em português, Mãe de Deus), o culto mariano floresceu, assumindo, ao longo dos séculos, cores e expressões próprias nas diversas culturas. Em nossa Arquidiocese, essa herança ganha um rosto muito concreto em Nossa Senhora Aparecida, cuja presença materna continua a suscitar conversões, fortalecer a fé e inspirar gestos concretos de caridade. Mais tarde, a igreja nos ensina através do Concílio Vaticano II que “Por graça de Deus, Maria foi exaltada, depois de Seu Filho, acima de todos os anjos e homens, como Santíssima Mãe de Deus, e esteve presente aos mistérios de Cristo, sendo merecidamente honrada com culto especial pela Igreja” (CONCÍLIO VATICANO II,Lumen Gentium, n. 66). Tal veneração, longe de ser fruto de sentimentalismo, é expressão de uma fé madura que reconhece a inseparável união da Mãe com a missão do Filho.

Esta veneração é explicada e nos ensinada através de São Luís Maria Grignion de Montfort em “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”. De modo muito especial, no No capítulo II, intitulado “Verdades Fundamentais da Devoção à Santíssima Virgem”, São Luís nos ensina; “Jesus Cristo, nosso Salvador, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, deve ser o fim último de todas as nossas devoções; de outro modo, elas serão falsas e enganosas. Jesus Cristo é o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim de todas as coisas” (MONTFORT, 1999, n. 61). Assim, aproximar-se de Nossa Senhora é caminhar ao encontro de Cristo. Toda honra autêntica prestada à Mãe redunda em maior glória ao Filho. O caminho para o verdadeiro amor a Jesus passa necessariamente pelo colo de Maria. Tal como uma viagem exige um meio para alcançar o destino, a devoção mariana é o “navio seguro” que conduz a Cristo.
São Luís também recorda que amar a Mãe é caminho seguro para amar o Filho, pois esta é a escolha divina desde toda a eternidade: “Foi pelo ventre puríssimo de Maria que Deus quis vir ao mundo”. Se o próprio Pai eterno confiou Seu Filho às mãos maternas da Virgem, não podemos nós, discípulos, ignorar tal modelo de confiança e amor.

Negar a maternidade divina de Maria ou não prestar o devido culto a ela é erro teológico grave. Afinal, como poderia uma mãe gerar apenas a cabeça sem gerar também todo o corpo? Jesus é 00% Deus e 100% homem. Desde Gênesis, vemos que pela desobediência de uma mulher entrou o pecado no mundo; pela obediência de outra, entrou a obediência e a graça  (Gn 3,6; Lc 1,38). Maria é a nova Eva: pela sua obediência, a humanidade é redimida.

Assim,“Foi por intermédio da Santíssima Virgem Maria que Jesus Cristo veio ao mundo, e é também por meio dela que Ele deve reinar no mundo” (MONTFORT, 1999, n. 1). Considerar Maria como dispensável na economia da salvação é fechar os ouvidos ao desígnio de Deus. É assumir um moralismo daquele que acha que apenas o culto a Deus é autossuficiente para a salvação. Por isso, a devoção a Maria não é um adorno opcional, mas parte integrante do projeto divino. “Jesus, ao ver sua mãe e, ao lado dela, o discípulo a que, amava, disse à mãe: “Mulher, eis o teu filho!” Depois disse ao discípulo: “Eis tua mãe!” (Jo 19, 26). A participação de Maria de nossas vidas é o caminho que nos leva a Cristo, nossa finalidade. Algo que é parte do plano é algo feito pelo próprio Deus.

Que possamos examinar, à luz do Evangelho e da Tradição da Igreja, se nossa devoção a Nossa Senhora é verdadeiramente aquilo que Ela merece. Perguntemo-nos, com sinceridade, se somos de fato devotos de Maria como Ela é em si mesma, Mãe de Deus e nossa Mãe, e não apenas segundo as imagens ou ideias parciais que formamos a seu respeito. Que nossa piedade mariana não se limite a interpretações pessoais ou sentimentos passageiros, mas seja, como ensina São Luís Maria Grignion de Montfort, uma devoção que brota do mais íntimo do coração e do espírito.

Que seja uma devoção terna, marcada pela confiança simples e filial de quem se sabe amado e protegido; uma devoção santa, que purifica a alma, afasta do pecado e conduz à imitação das virtudes da Mãe de Deus e nossa Mãe; uma devoção que, como luz suave e firme, nos guie sempre ao encontro de Cristo, seu Filho amado.
Caríssimos irmãos, que esta reflexão reacenda em nós o zelo pela verdadeira devoção à Virgem Maria, para que, como Arquidiocese mariana, sejamos sinal vivo e inspirador para todos, como o exemplo de Maria, que nos conduz às virtudes e ao amor perfeito a Deus.

Que Deus abençoe cada um de vocês!

Mons. Murilo Climaco
Vigário Episcopal para assuntos Gerais
Arquidiocese de Aparecida


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